O poder que o folclore possui de ser representado artisticamente promove o surgimento de especialistas em retratar as danças, lendas, práticas e os folguedos de seu povo. Valendo-se dessa característica, as tradições juninas, por serem expressões folclóricas, recebem homenagens de diversos artistas, principalmente os nordestinos.
Para o pintor Joel Dantas, todas as manifestações da cultura popular carregam em seu bojo significados muito valorosos para aqueles que se consideram representados por elas. “A representatividade dos símbolos, que preenchem cada uma dessas manifestações, incentiva o sentimento de orgulho de fazer parte de uma comunidade culturalmente reconhecida”, afirma com convicção o artista nascido no sertão da Bahia, mas que ainda menino veio com a família para Aracaju.
Três quadros de Dantas, atualmente expostos na galeria Álvaro Santos, revelam um olhar sensível sobre duas tradições juninas. Dois deles retratam a pirotecnia do período e o terceiro mostra um grupo de músicos tocando tambores. As telas fazem parte da exposição “Coletiva Junina 2009”, que acontece há mais de 10 anos e, na edição atual, apresenta ao público 35 obras de 29 artistas nascidos ou radicados em Sergipe.
Artista especializado em abordar temas juninos, pode-se dizer que Joel Dantas é um veterano da “Coletiva Junina”. “Como eu já trabalho com essa temática há algum tempo, sou chamado com regularidade para participar de exposições desse tipo. Inclusive, em 2003, fiz uma exposição individual toda dentro dos temas juninos. Envolvia pirotecnia, quadrilhas, bandas de pífano, bacamarteiros, entre outros”, disse.
Segundo o próprio Joel, sua motivação, e também inspiração, para pintar quadros está em grande parte relacionada às lembranças da infância no então povoado Marcação, onde hoje é o município de General Maynard. “Foi em Marcação que me despertou o gosto em soltar fogos e nas outras tradições do São João de Sergipe. Porém, o interesse pelo desenho e pela pintura só me ocorreu quando vim para Aracaju, aos oito anos”, lembra.
Além dos quadros de Joel Dantas, outro destaque da “Coletiva Junina 2009” são as fotocomposições de Adriana Hagenbeck. O trabalho da artista aracajuana é no mínimo curioso. Sob os títulos de Fotocomposição Culinária I e Fotocomposição Culinária II, os trabalhos mesclam elementos da pintura, da fotografia e da arte culinária.
Adriana, que é dona de um restaurante no Centro da cidade, produziu uma espécie de “arraiá” utilizando como material verduras, raízes e um caramelo especial. “Para fazer as bandeirolas, utilizei beterraba, cenoura, chuchu e batata. Para envolver as bandeirinhas, fiz o desenho com caramelo balsâmico”, explica.
Á primeira vista, os quadros de Adriana parecem duas pinturas. Ao se aproximar das molduras percebe-se a ilusão. Ilusão que ganha mais força quando, vendo o nome das obras, é possível notar que os trabalhos são também fotografias, ou seja, Adriana produziu toda a composição com os já citados ingredientes e, por último, fotografou tudo. O resultado foi um dos trabalhos mais originais da exposição. “Eu fiquei muito satisfeita com estes trabalhos porque, além de unir duas paixões, que são a culinária e as artes plásticas, nos dá uma visão completamente diferente das possibilidades de uso tanto de uma, como de outra”, ressalta.
Conferir o olhar de cada artista sobre as tradições juninas faz com que o público desfrute de um importante momento de reflexão a respeito de sua própria cultura. A “Coletiva Junina 2009” ficará em cartaz na galeria Álvaro Santos até o dia 30 deste mês e sem dúvida é um excelente programa. Na verdade, como evidenciam as fotocomposições de Adriana Hagenbeck, um prato cheio.